Por Gabriel Rodoval;
''Você quer viver para sempre?'' - questionava o médico no
anúncio televisivo - ''Então venha fazer parte dessa incrível experiência''.
Olhei para o lado e vi minha bela esposa com um olhar cético diante de tal
comercial.
''Laiane (nome de minha esposa), mas e
se isso for verdade? Eu pretendo nunca me separar de você e isso seria uma
boa'' afirmei com um sorriso. Ela continuou calada.
Sete dias mais tarde fui tomado de
surpresa quando Laiane abordou-me dizendo que queria submeter-se à experiência
observada na televisão. Perguntei então por qual motivo ela agora queria
subjugar-se ao experimento e ela respondeu-me que vira uma reportagem da
revista ''VEJA'', a qual mostrava o quanto as mulheres mais velhas sofrem
preconceitos por causa da aparência física. Eu lhe disse então que no dia
seguinte iríamos à clínica onde haveria tal experiência.
No dia seguinte, partimos bem cedo. Ao
chegar, não havia ninguém do lado exterior da clínica. Ficamos receosos de
entrar, mas a vontade de ter a beleza e juventude eterna falou mais alto.
Entramos no condomínio e fomos à
recepção. Agendamos e pagamos tudo. Você deve estar se perguntando agora: ''Mas
pagou tudo de primeira sem nem se dar conta dos procedimentos que iriam
suceder-se?'' Sim, paguei e sem nenhum remorço.
Após o pagamento, fomos conduzidos à
uma câmara de gelo. O suposto feitor da experiência explicou que seríamos
congelados e que no ano de 2100 seríamos descongelados. Após estas explicações,
o homem perguntou-nos se queríamos ser congelados juntos. Respondemos
afirmativamente e a câmara foi fechada. Olhei para minha esposa e dei-lhe um
sorriso. Ela retribuiu. Foram poucos minutos e apagamos...
... Senti um calor vindo de dentro do
meu corpo. Abri os olhos lentamente e lembrei-me de tudo o que me ocorrera
cerca de 100 anos atrás. Olhei para o lado e vi Laiane ainda ''morta'', ou
melhor, ''congelada''.
Levantei-me da placa de gelo e fui ver minha amada ser
descongelada. Passaram minutos, horas e nada. Comecei a ficar angustiado. Treze
horas mais tarde, os médicos disseram-me que a situação dela era grave e que
eles teriam de usar seus genes em laboratório para reconstruí-la. Também
disseram-me para dar uma volta e conhecer o ''Novo Mundo''. Saí da câmara e,
para minha surpresa, tudo estava diferente, ou melhor, igual. Todas as pessoas
que eu encontrava era idênticas. Não era aquele mundo que eu queria, não era
aquela beleza.
Voltei correndo para a câmara onde estava e vi minha esposa
começando o tratamento. Percebi então que aquela busca excessiva pela beleza e
pela juventude havia sido em vão. Os médicos ligaram uma máquina que tinha um
som estridente e começaram a furar minha esposa. Pedi para que eles parassem o
tratamento. Eles ficaram boquiabertos perante minha escolha. Expliquei-lhes que
eu iria deitar ao lado dela e que, quando eu dormisse, eles deveriam
aplicar-nos uma injeção letal. Expliquei-lhes também o porquê da escolha e eles
entenderam claramente.
Deitei-me e rapidamente adormeci. É... a nossa busca
intensa pela beleza havia chegado ao fim.
Senti uma pequenina picadinha e naquele momento, no mais
profundo do meu íntimo, notei que não voltaria mais. Que tudo havia sido em
vão...