domingo, 26 de fevereiro de 2012

Busca excessiva pela eterna juventude. Compensa?

Por Gabriel Rodoval;

   ''Você quer viver para sempre?'' - questionava o médico no anúncio televisivo - ''Então venha fazer parte dessa incrível experiência''. Olhei para o lado e vi minha bela esposa com um olhar cético diante de tal comercial.
   ''Laiane (nome de minha esposa), mas e se isso for verdade? Eu pretendo nunca me separar de você e isso seria uma boa'' afirmei com um sorriso. Ela continuou calada.
   Sete dias mais tarde fui tomado de surpresa quando Laiane abordou-me dizendo que queria submeter-se à experiência observada na televisão. Perguntei então por qual motivo ela agora queria subjugar-se ao experimento e ela respondeu-me que vira uma reportagem da revista ''VEJA'', a qual mostrava o quanto as mulheres mais velhas sofrem preconceitos por causa da aparência física. Eu lhe disse então que no dia seguinte iríamos à clínica onde haveria tal experiência.
   No dia seguinte, partimos bem cedo. Ao chegar, não havia ninguém do lado exterior da clínica. Ficamos receosos de entrar, mas a vontade de ter a beleza e juventude eterna falou mais alto.
   Entramos no condomínio e fomos à recepção. Agendamos e pagamos tudo. Você deve estar se perguntando agora: ''Mas pagou tudo de primeira sem nem se dar conta dos procedimentos que iriam suceder-se?'' Sim, paguei e sem nenhum remorço.
   Após o pagamento, fomos conduzidos à uma câmara de gelo. O suposto feitor da experiência explicou que seríamos congelados e que no ano de 2100 seríamos descongelados. Após estas explicações, o homem perguntou-nos se queríamos ser congelados juntos. Respondemos afirmativamente e a câmara foi fechada. Olhei para minha esposa e dei-lhe um sorriso. Ela retribuiu. Foram poucos minutos e apagamos...
   ... Senti um calor vindo de dentro do meu corpo. Abri os olhos lentamente e lembrei-me de tudo o que me ocorrera cerca de 100 anos atrás. Olhei para o lado e vi Laiane ainda ''morta'', ou melhor, ''congelada''.
   Levantei-me da placa de gelo e fui ver minha amada ser descongelada. Passaram minutos, horas e nada. Comecei a ficar angustiado. Treze horas mais tarde, os médicos disseram-me que a situação dela era grave e que eles teriam de usar seus genes em laboratório para reconstruí-la. Também disseram-me para dar uma volta e conhecer o ''Novo Mundo''. Saí da câmara e, para minha surpresa, tudo estava diferente, ou melhor, igual. Todas as pessoas que eu encontrava era idênticas. Não era aquele mundo que eu queria, não era aquela beleza.
   Voltei correndo para a câmara onde estava e vi minha esposa começando o tratamento. Percebi então que aquela busca excessiva pela beleza e pela juventude havia sido em vão. Os médicos ligaram uma máquina que tinha um som estridente e começaram a furar minha esposa. Pedi para que eles parassem o tratamento. Eles ficaram boquiabertos perante minha escolha. Expliquei-lhes que eu iria deitar ao lado dela e que, quando eu dormisse, eles deveriam aplicar-nos uma injeção letal. Expliquei-lhes também o porquê da escolha e eles entenderam claramente. 
   Deitei-me e rapidamente adormeci. É... a nossa busca intensa pela beleza havia chegado ao fim. 
   Senti uma pequenina picadinha e naquele momento, no mais profundo do meu íntimo, notei que não voltaria mais. Que tudo havia sido em vão...