segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Diário de Um Estudante de Medicina #3


Barretos-SP, 22/02/2015

(O dia em que escrevo não é o mesmo em que os eventos se sucederam)
   Acordei bem disposto: o horário de verão havia terminado e eu ganhara uma hora a mais de sono naquela noite. Mas eu não poderia relaxar. Precisava arrumar muitas coisas antes das 10h, horário em que eu havia combinado com mais três veteranas de voltarmos para Barretos. Faltavam cerca de quinze minutos quando terminei tudo. 
   Acordei meu (ex) companheiro de quarto (~CP) para dizer que eu já estava descendo. Sorridentes (eu, na verdade - ele havia acabado de acordar), conversamos um pouco e imaginamos como seria a viagem. Brinquei (maldita/bendita brincadeira) com ele dizendo que se o pneu do carro furasse eu estaria "rodado", afinal, nunca havia trocado um em minha vida. Eu até já tinha visto um tio meu trocar (pneu - mente poluída!), mas já haviam se passado anos desde o acontecido. Até então nada anormal. Descemos e as esperamos.
   Era cerca de 10:30 quando elas chegaram, já cobrando o lenço e a plaquinha por sinal. Convenhamos, elas eram minhas conterrâneas, deveriam relevar... (e relevaram).
   A viagem começou e eu, como sempre, iniciei um dos meus hobbies prediletos: ser o representante do silêncio. De tempos em tempos soltava algumas palavras - quando questionado - mas não passava disso. 
   Após algumas horas de viagem paramos para almoçar. A moça que nos atendeu disse que o prato principal vinha com carne e, como estou sem comer esse tipo de alimento, perguntei a ela o que poderia ser feito em meu caso. Ela questionou se poderia fazer uma omelete e eu disse que estava tudo bem. Quando o prato chegou, demorei um pouco para perceber que a omelete vinha recheada com presunto. Eu pensei "que beleza!", mas não disse nada à moça: notei a correria em que todos os funcionários estavam devido ao grande fluxo de clientes. Relevei, assim como haviam me relevado antes (só agora me dei conta desse detalhe...). 
   A viagem prosseguiu. Nessa segunda parte, me soltei um pouco mais, devido aos questionamentos a respeito da minha religião. Não hesitei em falar animadamente! Apesar de diversas interrupções, não perdi a calma e respondi a tudo o que me perguntaram. 
   Faltavam menos de 50 quilômetros para chegarmos a Barretos. Foi quando o inesperado aconteceu. Desviando de um carro, a veterana que estava na direção acertou em cheio um buraco. Não demos conta de nada até que, algumas centenas de metros à frente, o barulho do pneu furado revelou que a minha boca havia sido, de fato, "santa". Uma das veteranas que ia ao meu lado disse: "Ainda bem que temos um homem aqui no carro". Eu pensei comigo mesmo (perdoe a expressão, mas gostaria de manter a real gravidade da minha situação): "Puta merda, 'estou rodado!'". Fiz uma breve oração pedindo a sabedoria divina. 
   Saímos do carro e eu tentei ser o líder, mas não conseguia liderar nem mesmo meus temores. Eu nem era capaz de fazer o macaco funcionar (mais tarde me questionei por que o DETRAN não inclui na grade das aulas de formação de condutores o ensino de como lidar com emergências como essa). Por sorte, uma das veteranas já havia visto o pai trocar o pneu do carro antes (há pouco tempo), o que aliviou um pouco a tensão. Juntamente com ela(s) - e com o forte sol (quase) barretense - conseguimos trocar o pneu em menos de uma hora. Eu e uma das veteranas estávamos pingando suor e sujos de graxa. Porém - e apesar de tudo - não perdemos em nenhum momento o bom humor, o que acredito ter sido um fator primordial para que tudo corresse bem.  
   Após realocarmos as bagagens no carro, entramos e descansamos um pouco no ar condicionado. Meu olhar alcançou o infinito, mas eu não via nada. Comecei a refletir - enquanto agradecia a Deus - no quanto havia sido importante ter vivido aquela experiência. Incrivelmente mesmo foi poder ter percebido de maneira prática a teoria da aula de Studium Generale sobre "equipe". Foi com cada um exercendo seu papel - às vezes menos exaustivo, mas fundamental - em prol de um objetivo em comum que conseguimos a vitória no final. Uma vitória que para muitos pode ser tão banal, mas que para nós quatro foi "a" vitória. Meu olhar continou alcançando o infinito, mas o que eu via agora eram apenas pensamentos e sentimentos de êxtase. Continuamos no carro, descansando por mais alguns minutos. Em seguida, rumamos para Barretos. 
   Quando chegamos, o sol - agora barretense - se guardava dentro da noite, assim como as lembranças deste dia se guardarão por muitos e muitos anos dentro da minha mente e do meu coração, até o dia em que hei de terminar a minha dimensão temporal do Universo...

~ALU

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