Por Gabriel Rodoval;
"Vovô, onde o senhor está?" Era meu netinho Henrique, um menino muito curioso, além de ser apaixonado por "coisas do passado". O garoto colecionava moedas, selos e carrinhos de diversos estilos e tempos. Confesso que boa parte do acervo cultural de meu neto foi "furtada" de mim, mas eu já nem mais me importava com isso. A concepção de que a morte e o fim do mundo estavam cada vez mais próximos da minha vida eram os únicos pensamentos que me atormentavam.
"Vovô, onde o senhor está?" Era meu netinho Henrique, um menino muito curioso, além de ser apaixonado por "coisas do passado". O garoto colecionava moedas, selos e carrinhos de diversos estilos e tempos. Confesso que boa parte do acervo cultural de meu neto foi "furtada" de mim, mas eu já nem mais me importava com isso. A concepção de que a morte e o fim do mundo estavam cada vez mais próximos da minha vida eram os únicos pensamentos que me atormentavam.
"Vovô" - dessa vez a voz era mais forte - "venha aqui no porão por favor". Lentamente me locomovi para onde a voz me chamava. Ao chegar lá, vi meu pequeno Henrique "futricando" em um baú bem antigo. O garoto foi me vendo e disse "Vovô, por que o senhor nunca me mostrou isso" - ele apontava para algumas folhas com gráficos e números - "isso é muito interessante!"
Fui em direção às folhas e comecei a decodificar o assunto contido nos gráficos. Pude perceber que aqueles dados eram referentes a uma pesquisa feita por mim, quando eu ainda era adolescente e a fizera para a escola. Meu neto, ao ver que eu compreendia aquilo, pediu que eu lhe explicasse o que estava contido alo. Calmamente memoravelmente, comecei a lhe falar:
-Esse foi um trabalho que eu fiz na escola. Os gráficos representam a população do Brasil em 2010, que era de 190 milhões de pessoas. Um outro gráfico feito no mesmo ano informou que 53,17% dos brasileiros eram brancos e 7,6% eram pretos. E esse último gráfico diz que, para cada 100 brasileiros, apenas 12 eram desempregados.
Quando terminei a explicação, Henrique pegou seu "tubecom" (celular da moda) e digitou algo. Após alguns minutos olhando o "tubecom" ele me disse:
-É... o passado era bom! Isso se compararmos as estatísticas atuais - e então o menino começou a falar os dados atuais do Brasil de maneira simplificada - população: 900 milhões de pessoas; porcentagem de brancos: 92,4% ; na área de empregos: para cada 100 brasileiros, 77 estão desempregados.
Comecei então a me emocionar, ao lembrar-me o quão bom o passado era e eu não o sabia. As lembranças passavam a vir velozmente à minha mente. Meu coração começou a "tiquetaquear" mais forte quando percebi a que rumo a humanidade se encaminhava. É... o passado era realmente bom! Meu coração batia cada vez mais forte e depois de alguns segundos, senti uma explosão dentro de mim e pude novamente ouvir (de maneira fraca) a voz de meu neto: "Vovôôôô! Não volte para o pas..."